sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Título: Celebração


Quando me aprontei para mudar de casa e morar sozinho resolvi que iria blogar. Queria escrever e registrar isso. Mas não fiz isso de imediato, pois sabia que no começo as emoções e as “flores” do começo iriam camuflar o que realmente é morar sozinho. Esperei passar 1 mês para escrever, e hoje, passado esse tempo, chegou o dia.
Justamente no momento que chego do mercado, e penduro um quadro na parede de fotos antigas minhas, ainda bebê, sendo acalentado por meus pais, ou momentos da minha infância, festa junina, festinhas da escola, aquelas fotos que todo mundo tem, tendo ao fundo um dvd do Rei Roberto Carlos, ficou impossível não me emocionar, e senti que agora, era exatamente a hora de escrever o que sinto.
Fazer as malas para dormir a primeira noite sozinho aqui nesse apartamento foi um momento especial. Um misto de sensações: liberdade, desafio, medo, ansiedade, euforia, tristeza... se misturavam dentro de mim enquanto eu colocava cada peça de roupa dentro da mala. Era realmente como cortar o cordão-umbilical de vez. Sair de casa. Morar sozinho. E com esse mix de sentimento eu vim, como um barco navegando sem saber muito bem onde iria atracar.
A partir de agora quem arruma cama sou eu, quem faz a janta sou eu, quem vai ao mercado sou eu, enfim, qualquer coisa eu que faço, até um remédio pra dor-de-cabeça, eu é que preciso passar na farmácia, comprar e tomar.
É outra vida! Diferente um tanto da que eu estava acostumado. Aquelas fotos que pendurei na parede a pouco, quando meus pais faziam tudo para mim, esse tempo de certa forma passou.
Olhando essas fotos na parede e vendo meus pais cuidando de mim quando ainda era um bebê, ou uma criança pequena dando seus primeiros passos, me bate um sentimento de gratidão tão grande por eles, uma coisa gostosa no peito que em um segundo passa um filme da minha infância toda em minha mente. Sou o que sou por que meus pais me fizeram assim. Obrigado meus pais queridos, do fundo do meu coração. O homem que me tornei, os valores que tenho são fruto da educação que vocês me deram.
Não foi essa a primeira vez que refleti sobre isso. Dia desses, dentro do carro a caminho do mercado, chorei incontrolavelmente enquanto dirigia o carro ao lembrar dos meus pais e do amor que sinto por eles. Quase precisei estacionar o carro do tanto que chorava. A vontade que eu tinha era de pegar o telefone e ligar pra eles aos pratos e agradecer loucamente por eles terem tido paciência comigo, me ensinado ser homem, me darem o ombro nos momentos em que eu falhei, e mesmo assim eles estavam lá, sendo o alicerce da minha vida para que eu seguisse em frente de cabeça erguida.
Obrigado meus pais, eu amo vocês. Me desculpem se em algum momento eu não fui o filho que vocês esperavam, mas juro que fiz tudo na esperança de que um dia vocês tivessem orgulho de mim.
O dvd agora toca uma canção assim “você não sabe, mas é que eu tenho cicatrizes que a vida fez.”, ah, e quantas cicatrizes a vida me fez. Algumas delas se tornaram calos e até hoje incomodam um pouquinho, outras estão totalmente fechadas e superadas, e aqui estou eu, em uma nova etapa de vida.
Agora eu sei exatamente quanto tempo dura uma manteiga, quantos dias suporta um maço de alface na geladeira, o preço de um quilo de sal, coisas que antes passavam despercebidas e agora fazem toda diferença.
Olhando tudo isso, o saldo é positivo. Não sou o homem mais rico do mundo. Às vezes me falta grana para algumas coisas, outras vezes me bate um medo incrível de não conseguir pagar minhas contas, outrora me sinto incapaz de mudar uma situação e tudo isso me dá um nó na garganta que acho que as pessoas que convivem de perto comigo me acham estranho, chegam a dizer “o que você tem? Você está diferente. Te fiz alguma coisa?” e não é nada além de tristeza, impotência diante de algumas coisas, vontade que alguma coisa fosse diferente e não é, e nesses momentos eu me fecho mesmo, fico um cara “estranho”, “diferente”, mas saibam que não é nada além disso, provavelmente eu tive um dia ruim e fiquei pensativo sobre alguma coisa, jajá fica tudo bem de novo.
Mas vamos lá, estou aqui, sozinho, precisando preparar a janta de hoje.
É isso, VAMOS CELEBRAR! Agora essa é a vida de um rapaz latino-americano sem muito dinheiro no bolso, mas muito comprometido a ser sempre um ser-humano melhor.

Detalhes da foto:
f:5,6, ISO: 1600, Exposição: 1/4s

Um comentário:

  1. Nossa fiquei emocionada com sias palavras...sei bem o que é isto...na vida nda é fácil pra ninguém!

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