domingo, 30 de maio de 2010

Título: Povo Brasileiro

Depois de passar uma noite toda na sala jogando vídeo-game sozinho e vendo televisão até altas horas, sem o perdão do trocadilho, a vontade hoje ao acordar era fazer algo diferente, sair da mesmice. Não digo nem rotina, por que não é a rotina que me incomoda, é ficar aqui em casa sozinho, com as mesmas coisas.

Abri a geladeira e não havia nada interessante para o almoço. Se fosse optar pelo “de sempre”, certamente iria à casa da minha mãe almoçar, muito mais cômodo, mas hoje era o dia de sair da mesmice não era? Então resolvi almoçar em algum lugar diferente. Decidi pelo shopping, assim eu dava uma volta, via gente, e ainda aproveitava o domingo pra fazer uma comprinha básica de supermercado já que minha geladeira hoje está quase vazia, tadinha.

Andei pra lá e pra cá. Ok, Mc Donald’s, Mc Chicken Bacon sei lá o que, um nome que nem eu decorei, agora que me dei conta que não sei nem o que comi. Incrível como essas porcarias são saborosas quando se come, e pesam absurdo no estômago depois de alguns minutos. Mas aprendi sobre as Copas. Aquele folhetinho que vem sobre a bandeja trazia informações dos mundiais. Agora já sei que essa é a décima nona Copa do Mundo, quem em 6 delas o país sede foi o campeão e que em três vezes o Brasil teve o artilheiro. Cultura inútil, assim como minha noite do dia anterior, e hoje eu não estava a fim de ter um domingo também inútil.

Bola pra frente. Supermercado. Pra sair da mesmice, escolhi um supermercado diferente daquele que vou habitualmente. Carrefour. Peguei o carrinho e pensei “ai ai, sempre compro as mesmas coisas, mas hoje vou comprar coisas diferentes”. Escolhi outro Danone, outra marca de requeijão, peguei mel, pão de queijo, etc.. etc.. Tudo diferente!

Peguei até umas cervejas e pensei comigo mesmo “vou bebê-las”. Sim, pois da outra vez que comprei umas latas de Skol a idéia era simplesmente deixá-las na geladeira, vai que um amigo aparece em casa e quer beber uma. Assim foi. Um amigo consumiu as Skols. Mas essas não, eram minhas, bebê-las-ei. Peguei logo outra marca também, Bohemia Long Neck. Li em seu rótulo “desde 1853”, e eu desde sei lá quando me privando disso. Não me fez falta diga-se de passagem. Mas dessa vez beberei-as apenas pra sair da mesmice. Ok, aqui estão, na geladeira pra qualquer dia desses.

Uma garota escolhendo produtos nas gôndolas abastecia o carrinho empurrado pelo marido, enquanto duas crianças brincavam ao redor. Aquele rosto, aquela garota me chamou atenção, fixei nela, e nada. Não por ela em si, evidente, não me atraiu, mas pensei “eu conheço essa menina”, me esforcei pra lembrar e não consegu. Talvez eu estive confundindo. Mas não, ao chegar na seção de frios me veio aquele estalo e foi inevitável, “Simmmmm, é ela, lembrei, estudou comigo na quinta-série. Ana Carolina, claro, evidente, eu sabia que conhecia. Meus Deus, como ela está diferente, como mudou. Jesus do céu o tempo foi cruel com ela”. Na mesma hora vi que as coisas mudam, eu também mudei. Será que ela também ficou com meu rosto na cabeça, tentando imaginar de onde me conhecia e de repente ela pensou “Simmmmm, é ele, lembrei, estudou comigo na quinta-série. Gustavo, claro, evidente, eu sabia que conhecia. Meus Deus, como ele está diferente, como mudou. Jesus do céu o tempo foi cruel com ele”. Será que ela também pensou isso? Será que me identificou? Vai saber...

Valeu pra eu ver que as coisas mudam. Ela casou, está com filhos, um tanto diferente da quinta-série. O tempo traz novas realidades, apaga partes do passado, lhe impõe nova vida, novos hábitos, nova postura. É isso: nova postura. Veja por mim, hoje sou quase um dono-de-casa, indo ao supermercado fazer compras, levando minha vida, preocupado com as roupas que tenho que colocar pra lavar, em abastecer a geladeira, limpar o banheiro, trabalhar na segunda pra garantir a parcela da casa própria no fim do mês.

O tempo lhe toma momentos que antes você tinha para fazer certas coisas e hoje não faz mais, assim como, esse mesmo tempo lhe dá momentos para fazer coisas novas que antes você não fazia e agora tem tempo para elas.

Enfim, a geladeira está cheia novamente. Já saí da mesmice. Agora vou voltar pro meu vídeo-game, ver futebol na tevê às quatro horas, e ligar a internet pra falar com a namorada enquanto ela não vem e me ajuda esvaziar a geladeira pra fazer tudo isso de novo. Mas dessa vez, juntos!

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Detalhes da foto:
breve comentário: escolhi essa foto pq assim como texto, o povo brasileiro tem que ralar, dar a cara a tapa pra conseguir alguma coisa melhor pra si e pra sua família. Algumas vezes somos até feitos de palhaço, mas estamos ai a cada Sol pra fazer que tudo seja diferente.

Abertura: 9,9 - velocidade 1/160s - ISO 1600

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Gustavo, tudo bem? Te vi na comunidade do Kardec(orkut)e, por curiosidade, entrei em seu blog.
    Você escreve muito bem. Seus textos são ótimos, e suas fotos, lindas!
    Parabéns!
    Uma semana de paz e luz pra você!

    Beijos

    Viviane Costa

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  3. Você é um cronista nato. Me identifiquei bastante.

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  4. É Gustavo, a vida é um carrossel!!!
    Por mais que tentemos fazer algo diferente, chega a hora de entrar novamente na roda e, girar...girar...
    Adorei seus escritos, vc sabe fazer isso muito bem. Beijosss
    Andréa Vianna

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